Aquela casa antiga / abraçada carinhosamente / de um lado por uma árvore / e por outro por um arbusto florido / exprime toda a ternura / que pode haver neste mundo /
Lembra uma velha senhora / abraçada pela filha e pelo filho / ou por dos filhos e pelo esposo velhinho / que vive na humildade do tempo / Parece uma família / aberta numa campina / uma clareira aos olhos / neste mundo solto nos lobos que vagam /
Casunha tão simples / que mesmo a simplicidade / tem vergonha de lá entrar / para tomar o café da velhinha hospitaleira e branda / que nem imagina / que está cercada pela alcatéia /
O tempo passa / e continua vivo / nas casinhas simples / como o adejar das pombas / no estalido das asas que não matam /
A casinha é um poema erguido á humildade / por um vate solitário / que não escreveu em versos / para a leitura / mas para o olhar ler / até parar de respirar / para instar que o tempo não passe sem leite e mel / e marcar a passagem no coração da beleza / do que for mais simples em pomba / em olhos de pombas / ou naquele adejar na esteira do mel / que as abelhas não descobriram /
Sua parede pintada / com um amarelo meio esquecido da cor / um amarelo de mãos dadas com o tempo / ( um velho e uma menina! / Ai! um pai e uma filha! / que se foi para sempre / no dia do lobo! /As mãos cortadas / decepadas na fúria predatória! / para sempre Oh! locução dolorosa! / As mãos separadas violentamente / do entrelaçamento cândido / pelas feras sedentas de carne! / Os olhos apartados!!! / Oh! pena cruel! ) /
Mas a casinha ficou lá humílima / com suas telhas anotando chuvas e meteorologias / fazendo apontamentos de goteiras / que goteiras tem utilidades poéticas insuspeitadas / pelas feras práticas e nefastas /
Olhando aquele casebre antigo e rústico / fico a cismar que olhos de gatos / quantos olhos de lobos / emboscam-se nas trevas / esperando o dia em que possam derribá-la / e construir uma Torre de Babel no lugar / onde lobos e felinos possam se digladiar /
Aquela casinha para eles é apenas um estorvo / porque os olhos dos animais / não podem vê a beleza / que vem dos olhos de Deus / quando olha distraidamente / a felicidade construída com cuidado e doçura / marcando o amor indelevelmente / até nas pedras mais duras / de onde tiram a piedade / e o mel do per~dão nos favos / guardado para os tempos ruins / estarão a galope /
É que a beleza está no meio dos olhos / no espaço entre os olhos / e o tempo na luz do olhar / no mel de sentir o que pressente a colméia / / na viva flor filha bela da clorofila e do sol / que guarda a vida / num berço oculto aos olhos cruéis / longe dos olhos de Herodes / numa simples manjedoura / onde pastam o burrinho e o jumento / o boi e o cordeiro / e anjos cantam / e pastores vem ver / e reis se curvam pasmos /
A beleza não está somente nos olhos / ou no que eles vêem / a beleza extravasa o olhar /
A beleza está inteira / entre os olhos que se tocam na luz com amor / porque no meio desses olhos interlocutores / estão os olhos de Deus /
segunda-feira, 5 de janeiro de 2009
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